Se eu seguir
Se eu seguir a sua voz
Onde isso vai dar?
Será onde ambos desejaram estar?
Na imagem viciante
Que se desenha no piscar do olhar?
Se eu seguir teus passos
Seriam os mesmo
Que um dia eu iria traçar?
Marcaríamos a terra
Pelo mesmo caminhar?
Se eu seguir o seu olhar
Meu coração pode acreditar
Que é o mesmo lugar onde esteve todo o tempo a apontar?
Iríamos atingir o mesmo alvo
Que estou a mirar?
Pra saber é só seguir
Pra desconhecer é permanecer onde está!
Amor amigo
Minhas mãos geladas como o inverno
Penetram em sua morada
Suas mãos arroxeadas
No aperto da minha amizade
Corpo e pensamentos quentes
Correm pra onde o vento emudece
Felicidade indo e vindo
No seu corpo a vida floresce
A boca não esconde palavras
Mentindo com sorrisos sem nuvens
Estou perdido, sem caminho algum
Esperando que o tempo mude.
Escravidão moderna
Todos os dias tenho o mesmo sonho
Ontem limpei os instantes empoeirados na estante
Todos os dias corro um pouco mais
A necessidade do dinheiro é incessante
Todos os dias acordo no mesmo lugar
Quanto tempo irá demorar pra me encontrar distante?
Veja só o que ficou
Quando eu pensei
Que me conhecia
Eu me tranquei
Em uma sala vazia
E brindei só
Com falsa alegria
Eu não entendia
Pois veja só
O que restou
Só mais um dia
Veja só
O que ficou
Só a melancolia
Eu me servi
Do que não sacia
Eu percebi
O que eu não queria
Andei sem saber
Em uma noite fria
Sem jogar, eu perdia
Pois veja só
O que restou
Só essa agonia
Veja só
O que ficou
Só a monotonia.
Você II
Você me faz errar
Você me faz acertar
Os teus braços minha casa
O melhor lugar
Em que eu posso estar
Você me prende
Você me liberta
Dos sonhos vazios
Dos meus passos vadios
De toda espera
Você me esvazia
Você me preenche
De tantos sentimentos
Que corpo e alma
Já não se entendem.
Você III
Você estava aqui até pouco tempo atrás
Ainda ecoa no meu peito, agora vazio
Seu riso alto sendo abafado no meu quarto quente
Nossas roupas no chão se confundindo ao ambiente
Enquanto nos fundiamos
Você me absorvia
E nosso corações não podiam nos conter
Pois eu estava disposto a não ter nada
Além de você
Você estava aqui até pouco tempo atrás
Ensaiando cenas de ciúmes comigo
Nos enxarcando, pele, poros, veias e veios
Nem sempre havia palavras
Por reconher o perigo que representava
E no entanto é o que nos revela
Por que nada era tão evidente
Quanto você
Você estava aqui até pouco tempo atrás
Dizendo-me onde deveria apostar
E acredito até agora ter sido minha melhor jogada
Mas não dei ouvidos ao você falar da banca
Só percebi quando vi suas fichas nas mãos enquanto as minhas estavam na mesa
Agora é o doce na memória e o amargo na língua
O dolorido adeus de quem fica
Não há um caminho sequer que não passe por você
Você estava aqui até pouco tempo atrás
Despedindo-se de mim e no entanto ficando
Disse-me pra ir em frente
Mas eu já estava no futuro que criei pra nós, a sua espera
Cobrindo o capim do parque de xadrez verde-branco
E o que pode o meu amor contra aquele que te gerou se não podem se aliar em um sentimento maior?
Então, que me preencha sua falta
Por quê não há nada que existiu em mim que não fosse
Você.
Jogando com o amor
Com os olhos cerrados, eu disse:
“Não tenho nada a perder”
Blefe!
Quando as cartas estão nas mãos
A aposta está na mesa
E em um jogo onde desconfiar é a regra
A verdade pode ser um trunfo
Acredite se quiser
Desconfie se puder.
Garoto comercial
Seus cabelos apenas repartem o vento
Eles não se erguem pra alcançar o céu
Na tentativa de se conectar ao infinito
E mudar nosso finito mundo
Você é moda
Você é ilusão
Você é agora apenas uma trágica constatação do fim
Um retrato
Que lembra a alguns do movimento
Da tua imagem estagnada de agora
Você não tem força pra cravar a semente na terra
Não tem honra pra sepultar as folhas secas
Assim te tornas apenas uma força disperdiçada
És um comercial
És moda, garoto
E tenho pena por todos nós.
… Assassinaram meu herói pra vender cada pedaço.
Dias e noites
É na noite que eu me perco
Nas madrugadas solitárias me encontro
Ao nascer do sol renego os dias iguais
Com a velocidade do tempo me contento
Muito embora não ache justo as horas
Em dias adentro
Em noites afora.
Fluorescentes
Ao meu redor
Ao olhar todos a me observarem
Adentrei na vertigem do nada
Como uma força da natureza
Uma tempestade
Um tornado
Gritei para acordar o silêncio
Fui violento
Eu precisava exorcizar uma parte de mim
Calei o eco
E me escondi na embriaguez
Erámos cinco
Flamenjantes e cadentes
Nascidos da luz
Resplandecentes na escuridão.